Local

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Cultura Corporativa e Transição Tecnológica

De: Renato Dias Baptista
As novas tecnologias impulsionam um amplo redesenho nos modelos de gestão de pessoas, nas concepções sobre o trabalho e na cultura organizacional. A transição, a propósito, é co-dependente ao status quo e aos níveis cognitivos dos indivíduos. Nesse aspecto, as estratégias de mudança devem subordinar-se à cultura; deslocar após a congruência e dinamizar mediante a reestruturação das concepções.
A ausência dessa análise caracteriza-se como uma conduta impositiva que, conforme Spector (2002), fomentam conflitos, trazem amplos prejuízos, não gera compreensão e debilita-se a criatividade. Gorz (1996) enfatiza que a organização opressiva gera resistências, indolências que originam os defeitos de fabricação, erros, sabotagens, bem como taxas de ausências e de rotatividade do pessoal.
Valendo-se dos estudos Hofstede (2003), podemos promover a apreensão de dados que conformam a cultura nas organizações. O autor destaca a necessária associação com as questões tecnológicas, a globalização, o etnocentrismo, os estereótipos e as diferenças de linguagem.
Na antropologia “cultura” é a palavra que engloba os padrões de pensamento, sentimentos e comportamentos. Ela inclui não apenas as atividades consagradas a refinar a mente, mas também as ações como cumprimentar, mostrar ou esconder emoções e manter uma certa distância física dos outros, Hofstede (2003).
Em configuração consoante Deal & Kennedy (1992) comprovam em seus estudos empíricos realizados em empresas como IBM, Caterpillar, DuPont, Price Waterhouse, Procter & Gamble que o processo de mudança é revigorado mediante a análise dos valores corporativos; fundamentos de qualquer cultura, eles provêem um senso de direção comum para todos os empregados.
Para Adler (2002) a evolução das corporações impactou de modo peculiar a cultura; cada fase explicitou interações internas e externas. Na fase doméstica ou de mercado interno, as empresas exportavam seus produtos sem alterá-los e, freqüentemente, para consumo estrangeiro. Durante essa fase, pessoas, suposições e estratégias da matriz dominavam o gerenciamento; as empresas nessa fase consideravam o gerenciamento transcultural/intercultural e o sistema de recursos humanos global como basicamente irrelevante. Na fase multilocal, os gerentes tinham que aprender formas de aproximação culturalmente apropriadas dentro de cada país onde a empresa operava. Na fase multinacional, o ambiente competitivo tinha modificado, elevando as necessidades para práticas de gerenciamento culturalmente adequadas. Atualmente, na fase global, idéias de produtos e serviços são tirados de fontes do mundo inteiro, adaptam os serviços, produto final e seu marketing em distintos nichos de mercado. Cultura, mais uma vez, torna-se um fator crucial, Adler (2002).
As organizações, em suas diferentes épocas, apresentaram impactos sobre as pessoas, mas em intensidade reduzida, se comparada com as fases atuais, nesse aspecto, o objetivo deste trabalho direciona-se para a discussão dos efeitos das tecnologias recentes nas empresas e nas pessoas.
Relevância do estudo: A intensa velocidade nos meios corporativos gera impactos estruturais que devem ser analisados com amparo da cultura e inter-relacionados com as tecnologias; ambos permitem repensar os padrões macro-estratégicos de uma empresa.
Materiais e Métodos: Para investigar os problemas apresentados utilizamos os seguintes procedimentos: Levantamento, fichamento e revisões bibliográficas. Entrevistas qualitativas com executivos de empresas de grande porte localizadas no Estado de São Paulo e a Descrição sobre “A Indústria e a Questão Tecnológica” realizado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).
Resultados: A bibliografia pesquisada, os demais procedimentos metodológicos e as informações teóricas e empíricas de um segmento da tese de doutoramento em desenvolvimento indicam que as tecnologias recentes incitam adaptações cognitivas. Essa proposição direciona-se para a hipervelocidade na transição organizacional e seus impactos nas pessoas; estresse, conflitos, ansiedade, sabotagens e agressividade são pontos de destaque. Numa analogia aos epítopos de uma molécula antigênica, a tecnologia se torna um intruso para os trabalhadores e, de forma acentuada, aos inseridos em sistemas gerenciais ineptos.
Conclusões: A despeito da redução dos gaps entre tecnologias e da rapidez do mundo contemporâneo, é a assimilação que garante transformação efetiva, mas também, nesse tema, se residem os maiores entraves, pois não há boom years em sintonia com subjetividades humanas.
Nesse cenário, a cultura tornou-se sacramento corporativo, e como tal, pouco compreendido, mas impregnado de explicitas abordagens que engendram o controle. A velocidade para introduzir novas tecnologias, modifica as relações do homem com as tarefas e impele um estreitamento das capacidades de absorção às mudanças. A retórica da absorção natural e, de preferência, rápida, está arraigada nas empresas; os melhores profissionais permanecerão, é preciso correr atrás, aquele que inovar irá permanecer, somente os rápidos sobrevivem.
As novas tecnologias comumente sonhadas como substitutas do trabalho árduo, do ambiente de alta periculosidade ou como algo que proporcionaria tempo para o lazer, para o contato humano e um desenvolvimento íntegro traduziu-se em uma cilada. As organizações tornaram-se ambientes tirânicos; criou-se um micromundo para um novo espetáculo debordiano; um taylorismo redesenhado, uma dilatação do pressuposto platônico; da caverna para a caverna; da manipulação ao controle, uma ardileza definida como flexibilização do comportamento, um recurso subserviente a um sistema em pressão continua.
Referênias Bibliográficas
ADLER, J. A. International dimensions of organizational behavior. Toronto: South-Western, 2002.
BAPTISTA, R. D. Será que a estagnação é um mecanismo de absorção e de recomposição da subjetividade? Disponível em: http://netart.incubadora.fapesp.br/portal/Members/ rdbap. Acesso em: 31 de ago. 2006.
BAPTISTA, R. D. Comunicação, Cultura e Novas Tecnologias: Transição, Fascínio e Repreensão. Disponível em: www.pos.eco.ufrj.br/revista/iconeco/gt5. Acesso em 18 de jan. 2007.
CHESNEAUX, J. Modernidade-Mundo. Petrópolis: Vozes, 1996.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS INDÚSTRIAS, A indústria e a questão tecnológica, Brasília, CNI, 2002.
DEAL, T. E; KENNEDY, A. Corporate cultures, the rites and rituals of corporate life. New York: Addison Wesley, 1992.
GORZ, A. Crítica da divisão do trabalho. São Paul: Martins Fontes, 1996
HOFSTEDE, G. Cultures and organizations: software for the mind. New York: McGraw-Hill, 2003.
SPECTOR, P. Psicologia nas organizações. São Paulo: Saraiva, 2002.