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domingo, 7 de agosto de 2011

Tecnologia x emprego - os impactos nas organizações

Por que caracterizamos a tecnologia como geradora de impacto? Afinal, ela parece estar integrada no trabalho contemporâneo. A resposta pode ser encontrada na velocidade da mudança e nas brechas de conhecimento que uma empresa, um grupo de pessoas ou um país apresenta diante de uma nova tecnologia.

No contexto atual, tudo é redefinido com apenas um upgrade no equipamento de fábrica, no computador ou no software. Também é preciso somar as revisões nas habilidades e competências humanas para atuar em modelos de trabalho cada vez mais flexíveis. É necessário abrir mão do passado, mesmo o mais recente, e assim evitar que as brechas tecnologias fomentem gaps cognitivos.


A idéia da existência de uma ‘brecha tecnológica’, a propósito,  deve ser diferenciada do conceito de ‘brecha digital’ que, segundo a Cepal - “é a distância que separa os que possuem e os que não possuem acesso às novas tecnologias da informação e da comunicação.” A ‘brecha tecnológica’, aqui concebida, está relacionada às limitações de inserção no mundo do trabalho para os que não possuem capacidades para utilizarem tecnologias de ponta, bem como por não possuírem as competências que circundam os novos equipamentos fabris. Veja-se o caso das máquinas antigas que ao serem substituídas por tecnologias recentes reconfiguraram todas as organizações e, ao mesmo tempo, exigiram novas habilidades e competências. Essas habilidades e competências estão associadas às capacidades cognitivas: aprender, assimilar, operar ou integrar uma função a essa tecnologia.

Mas esse processo de aquisição tec-nológica não está consolidado, pelo contrário, as mudanças tecnológicas são aceleradas e desafiam a capacidade evolutiva das organizações globais, bem como dos sistemas educacionais dos países que ‘recebem’ essas em-presas. Nesse aspecto, tudo o que está distante cognitivamente pode representar uma ameaça. Ensinar cálculos complexos para indivíduos que sequer possuem uma base conceitual pode ser um entrave na utilização de qualquer tecnologia. É uma brecha que se interpõe entre um estágio e outro; um impacto, na acepção do termo.

Como deslocar uma organização da estagnação para um ambiente de alta tecnologia? Há diferentes atores para esse papel. Um deles é a própria organização que necessita rever seus pressupostos sobre a inovação, a ‘vida útil’ de uma ideia, suas políticas de ges-tão de pessoas e as estratégias para administrar o conhecimento e fomentá-lo internamente. Afinal, o ser humano não se reduz a um mero estímulo-resposta ou uma reação funcional segmentada. A complexidade que envolve a transição para ambientes que utilizam tecnologias de ponta está sujeita ao cérebro humano, uma rede interconectada de bilhões de neurônios. Ora, a assimilação de um novo conhecimento depende de graduais sistemas de assimilação. Sem isso, persistiriam os ambientes compostos por autômatos e incapazes de atuar na diversidade ou de apresentar respostas às complexidades.

A universidade também é um agente desse contexto, visto que ela desenvolve as capacidades cognitivas nos diferentes campos de atuação. Contudo – frise-se – a ação da universidade pressupõe a eficácia dos estágios educacionais anteriores.

De todo modo, a universidade, longe de se isolar como se as concepções científicas não pudessem ser compartilhadas com o ambiente externo ou de criar um mundo intocável onde os conhecimentos não possam ser contaminados pelo capital, pode ampliar a integração junto às organizações e buscar a redução dessas brechas cognitivas.

As ações interconectadas podem elevar o número de cidadãos capacitados diante das substituições tecnológicas que se acentuarão nos próximos anos. Afinal, a brecha tecnológica não é uma condição determinista, mas um reflexo das limitações evolutivas a serem corrigidas.

O autor, Renato Dias Baptista, é professor assistente doutor do curso de Administração da Unesp, câmpus de Tupã - e-mail: mailto:rdbaptista@tupa.unesp.br