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sábado, 24 de abril de 2010

De Ratzinger ao Papa online' - O Globo

O delineamento dos últimos acontecimentos dentro da Igreja Católica revela a assimetria em suas estratégias comunicacionais em relação aos seus diferentes públicos, bem como a desatenção no que diz respeito às peculiaridades que são requeridas por um planeta regido pela hipervelocidade. Os antagonismos atuais são dignos de atenção, eles exprimem uma comunicação insuficiente e uma acentuação das brechas que compõem as múltiplas opiniões do clero. Diante de tantos porta-vozes, o momento presente pode "abrir as veias" históricas do catolicismo.
Se concebermos que a comunicação é a essência dos organismos vivos, toda dissonância poderia frustrar esse princípio e fomentar inúmeras reações contraproducentes. As informações antagônicas podem avolumar as resistências, bem mais do que impulsionar a crença. Entre tantos episódios, similares ou mais acentuados como de Raniero Cantalamessa, o Franciscano Capuchinho, acusado de - em sua fala - estabelecer relações entre a pedofilia e o antissemitismo, as múltiplas informações ofuscam os pressupostos da unidade católica. Nesses casos, se existiram erros de interpretação ou não, os efeitos exigiram uma resposta rápida do Vaticano.
O que os códigos desse momento exigem? Uma das faces dessa resposta está na necessária busca do Vaticano para encontrar ou desenvolver competências para liderar em ambientes de incertezas impulsionados pela comunicação instantânea. Diante desse pressuposto, a percepção dos católicos, não católicos e anticatólicos está sujeita a habilidade ou inabilidade comunicacional da Igreja e não somente de seus interpretantes; se o código não é decifrado, a comunicação é ineficaz.
Esse entrave católico é característico dos sistemas compartimentados, típicos de décadas passadas que, por não se submeterem à celeridade informacional, não requeriam estratégias também baseadas na hipervelocidade. Nesse caso, a mão-de-ferro de Joseph Ratzinger que, em época passadas - longe da instantaneidade midiática - salvaguardou a doutrina da Igreja, deve ser capaz de transformar a informação em comunicação para subsistir ao cenário da instantaneidade e suas variações semelhantes às oscilações da Bovespa, Nasdaq, etc.
As estratégias de comunicação do passado não atendem as demandas dos ambientes submetidos às tecnologias contemporâneas. A insistência em reproduzir os mesmos modelos pode estimular dissonâncias cognitivas, elas estão presentes nas divergências entre a informação e ação, entre o que se diz e o que se faz. Como já afirmou Edgar Morin, é preciso resgatar a importância do presente - real, sem distorções e enganos - para poder viver no futuro, pensar a situação, diagnosticar o verdadeiro e o falso. O ser humano não pode impedir a tecnologia, contudo pode ser capaz de gerir as incertezas que ela apresenta. Assim, a Igreja Católica se encontra diante da necessidade de desenvolver novos padrões comunicacionais e, sem retroceder ao excesso de autocracia, ela deve buscar a transição dos dados que estão segmentados nas mídias e conduzi-los em direção à comunicação integrada que é requerida pelos tempos atuais, caso contrário, ela pode perecer como qualquer organização.
Fonte: O Globo - Renato Dias Baptista