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segunda-feira, 7 de maio de 2012


As competências femininas

Renato Dias Baptista
Fonte: Jornal da Cidade
A mídia tem veiculado estudos importantes sobre as aptidões femininas em inúmeras organizações, bem como tem destacado as competências que elas possuem para liderar. São ótimas informações para uma sociedade que busca conquistar e solidificar os avanços obtidos – pequenos ou grandes - em todos os setores. A distribuição de papéis entre os sexos é uma questão fundamental para os países, pois a maioria mostra um grande gap nas oportunidades entre homens e mulheres. Veja-se o caso do ambiente de trabalho no relatório da OIT – Organização Internacional do Trabalho – que enfatiza os índices ainda insuficientes relacionados à ocupação feminina em cargos de comando, ou seja, precisa crescer muito ainda. Assim, como já disse Bordieu, “embora seja verdade que encontramos mulheres em todos os níveis do espaço social, suas oportunidades de acesso decrescem à medida que se atingem posições mais raras e mais elevadas”.

Contudo, também é bom destacar os estudos contemporâneos de Hofstede, um holandês notável por pesquisar as diferenças culturais entre muitos povos - inclusive o Brasil - onde relata as diferenças entre as sociedades femininas e as sociedades masculinas. O que essas diferenças significam especificamente? Significam que as sociedades femininas são caracterizadas por valorizar a atenção e os cuidados pelos outros, a simpatia pelos mais fracos, a tolerância nos insucessos, a intuição, a solidariedade e a qualidade de vida. No caso das sociedades masculinas os valores dominantes estão relacionados à competição, à resolução dos conflitos mediante outros conflitos, à simpatia pelos mais fortes e à concepção de que o insucesso é um desastre. A pesquisa não expõe uma posição unilateral, isto é, ela não objetiva valorar os homens ou as mulheres, mas a busca das características de ambos os sexos que determinariam os padrões de uma socioanálise.

Na prática, e para maior clareza, o que ocorre nos pressupostos teóricos e nos resultados empíricos é o fato de que uma mulher pode apresentar condutas culturalmente masculinas ao liderar uma organização tipicamente composta por ‘ideias masculinas’. Dessa forma, se primeiro desafio feminino é de ocupar um cargo de liderança, o segundo é o de manter-se firme em seus propósitos, isto é, em suas características de personalidade, sem mimetizar uma cultura masculina. Assim, levando-se em conta a necessidade de se fomentar uma equidade entre homens e mulheres e uma inter-relação com as ideias de Hofstede, verificaremos que uma mulher ao ocupar um cargo numa estrutura tipicamente masculina estará exposta a uma resistência cultural que praticamente lhe impõe mimetizar as condutas masculinas.

Essa característica pode interferir no slogan “escolha uma mulher para liderar” já que, nesse caso, não há uma mudança efetiva quando se reproduz os padrões vigentes ou as condutas reflexas de ventríloquos dominantes – individuais, grupais ou partidários –. Nesse caso, sem reduzir a complexidade do tema, vale ressaltar que muito além do gênero deve estar a personalidade como um fator determinante em qualquer mudança que se objetive alcançar.

O autor, Renato Dias Baptista, é doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e Docente da Unesp, e-mail: rdbapt@gmail.com