Existem inúmeras ações organizacionais que
visam amenizar os impactos sociais. Isso pode ser exemplificado pelo surgimento
dos ‘negócios sociais’. Denominados por muitos como o ‘quarto setor’, os ‘negócios sociais’ são modelos que visam à
solução de problemas ou a redução dos impactos sociais e/ou ambientais. Contudo,
diferente das típicas ONGs - organizações não governamentais - esses negócios são
financeiramente sustentáveis, algo como um fator social, mas sem perder de
vista o faturamento justo para todos os envolvidos. Geram formas de renda a
todos beneficiários numa estruturação que segue as regras do mercado. Nesse
modelo o foco está na ampliação da participação - efetiva e remunerada - de
grupos excluídos e não somente do ‘criador’ da ideia.
Claro, como toda ideia nova isso está sujeito a
encontrar resistências, afinal há a quebra de alguns paradigmas, já que é uma via diferente no capitalismo tradicional.
Entretanto, a cautela sempre é bem-vinda. A ideia tem crescido bastante e por
isso também devemos estar preparados para entender e acompanhar as ações, ou
seja, reconhecer a veracidade dos negócios sociais e fiscalizar aqueles que
poderiam utilizar isso como uma exploração de mão-de-obra ou qualquer outra estratégia
mal intencionada. Isso é recorrente nos projetos de responsabilidade social
empresarial, visto que ao mesmo tempo em que há empresas sérias, muitas outras
que se auto-intitulam socialmente
responsáveis, muito pouco ou nada fazem para merecer essa denominação. Afinal, não se pode ser considerado
socialmente responsável apenas por divulgar na mídia a suas ações de distribuição
de agasalhos ou de cestas básicas para comunidades de baixa renda. De igual
maneira, a denominação de ‘negócios sociais’ não deve ser aleatoriamente
criada; ela demanda uma estratégia de administração que envolve intensamente
todos os participantes e beneficiários das ações, um lucro justo num trabalho
que efetivamente reduza os impactos.
Em países que apresentam grande exclusão social
– como o Brasil – espera-se que esse modelo de negócio seja ampliado. Isso deve
ocorrer como uma tentativa de transformar o típico assistencialismo em
participação nos negócios. Mas a ideia não pode ser considerada uma panaceia,
pois ainda haverá uma grande parte da população que precisará das ações
filantrópicas. Os enormes gaps não
serão solucionados rapidamente em países onde os problemas sociais foram
engendrados por séculos.
Nos ‘negócios sociais’ a valoração dos
beneficiários deve ser profunda, visto que necessita uma consonância com o
pressuposto de envolvimento das comunidades de baixo poder aquisitivo na
solução dos problemas e na geração de renda. Enfim, os ‘negócios sociais’ devem
possibilitar, além do lucro justo para todos os envolvidos, também a evolução de
um modelo de trabalho. É uma nova linha de raciocínio sobre negócios, emprego,
renda e solução de problemas sociais e ambientais.
Mas é necessário abalizar o modelo para não
correr o risco de se tornar um mero espasmo
evolutivo, algo que em algum momento se renderá aos especuladores ou ao
capitalismo tradicional.
*Publicado no JC, 30.05.2012
*Publicado no JC, 30.05.2012